O livro intitulado Helena que também nomeia a protagonista, se trata de um romance escrito por Machado de Assis. Publicado em 1876 e contendo 112 páginas, na época a obra foi publicada em formato de folhetim, no jornal O Globo.
O enredo se desenvolve no cenário do Andaraí,
bairro tradicional do Rio de Janeiro. A história já começa contando sobre a
morte do conselheiro Vale que ocorrera por apoplexia depois de cochilar a sesta.
A família do
conselheiro era composta por seu filho, Dr. Estácio, e sua irmã, D. Úrsula, que
era solteira e vivia junto do irmão, tomando conta da casa depois que o mesmo
ficara viúvo.
No dia seguinte, após os rituais fúnebres, Dr.
Camargo, que era médico e amigo da família, acompanhou-os até em casa e valendo-se
do ensejo, questionou Estácio e D. Úrsula se o conselheiro havia deixado
testamento. Em meio à tristeza, mas impulsionados pela dúvida, depois de
procurarem um pouco, logo encontraram o testamento.
Estácio, Dr. Camargo e Padre Melchior foram
incumbidos da responsabilidade de fazer valer as condições do testamento. Quando
aberto, para surpresa de Estácio e D. Úrsula, o
testamento também beneficiava uma terceira herdeira, Helena, uma filha bastarda
que o conselheiro havia tido fora do casamento. Além disso, o mesmo havia sido
bastante claro, que a filha teria de ser reconhecida pela lei e que ela deveria
ir morar na casa junto com o Estácio e D. Úrsula, que os mesmos deveriam
recebê-la, já que a jovem era parte da família.
Embora surpreso com a situação, Estácio aceitou a
última vontade do pai sem questionar, mas D. Úrsula, não gostou nenhum pouco da
ideia, no pensamento dela repartir a herança já era bastante, mas receber em
casa uma estranha como parte da família, era exagero.
Porém, mesmo a contragosto de D. Úrsula o
testamento foi cumprido. Helena foi morar com sua nova família, mas nos
primeiros dias o constrangimento foi tenso, a jovem ficava quase o tempo todo
no quarto e trocava apenas umas poucas palavras. Depois do terceiro dia, Helena
enfim resolveu buscar um convívio mais harmonioso com a família.
O relacionamento de Helena com o irmão Estácio foi
de cordialidade desde o início, o irmão se propôs a mostrar a casa, a fazenda,
apresentá-la aos criados. Como forma de se aproximar ainda mais do irmão,
Helena pediu que o mesmo lhe ensinasse andar a cavalo, assim eles passaram a
sair praticamente todas às manhãs para cavalgar juntos.
Enquanto isso, D. Úrsula continuava irredutível,
tratava Helena com rispidez, mas a jovem não se importava, tratava a tia
turrona sempre de forma carinhosa e com o devido respeito, dizia que com o
tempo a tia se acostumaria com ela e a relação entre as duas melhoraria.
Assim, com seu jeito alegre, simpático e educado de
ser, com exceção da tia que ainda resistia, Helena conquistou a todos com seus
dotes de cordialidade.
Tudo ia muito bem, até que um dia Helena se recusou
a sair com Estácio e pediu que o mesmo a partir daquele dia a deixasse sair
sozinha para cavalgar. Mesmo ressentido com o desejo súbito da irmã, Estácio
não se opôs, mas pediu que o pajem, um dos criados da família o acompanhasse.
Certo dia, D. Úrsula caiu muito doente e Helena passou
a cuidar da tia com tal dedicação que assim que a mesma melhorou, havia
melhorado também seu conceito em relação à Helena. A gratidão pelos cuidados e
desvelo com que a sobrinha dedicou à mesma enquanto doente, fez com que D.
Úrsula passasse a admirar Helena.
Após algum tempo, Dr. Camargo que desejava ver
Estácio casado com sua filha Eugênia, tomou coragem e passou a pressionar o
moço para que o mesmo se dedicasse à política. Além das posses que Estácio
possuía e que Dr. Camargo ambicionava para sua filha, o mesmo também queria que
seu futuro genro tivesse uma vida pública. Até então, Estácio que dedicava sua
vida apenas a seus estudos e ajudar cuidar da fazenda e que gostava de Eugênia,
mas que nunca tivera coragem em abordar algo mais sério com a moça, se viu forçado
a tomar uma decisão.
Estácio que tinha grande estima por Helena, pediu
sua opinião, sendo surpreendido por sua resposta positiva quanto às ambições de
Dr. Camargo em relação ao futuro de Estácio na vida pública e inclusive sobre
seu casamento com a filha do mesmo.
Helena aconselhou-o a aceitar a proposta de Dr. Camargo
e pedir Eugênia em casamento. Não vendo outra saída, mesmo em dúvida em relação
ao verdadeiro sentimento que sentia por Eugênia, o rapaz acabou aceitando. Enquanto
acompanhava a noiva numa viagem praticamente forçada, onde a mesma com sua
família visitava uma tia doente, Estácio tomou conhecimento através de uma
carta que Helena o enviara, que também havia ficado noiva, de Mendonça seu
melhor amigo.
O que estava por trás dessas decisões drásticas era
um grande mistério, a chantagem que Dr. Estácio fizera a Helena para que a
mesma convencesse o irmão em relação às suas ambições, tinha a ver com os
passeios matinais a cavalo que a mesma fazia todos os dias.
Diante de tamanho abalo e argumentando que Mendonça
havia traído sua confiança, Estácio procurou Padre Melchior que também era conselheiro da família, para pedir
seus conselhos, àquela altura, estava evidente para o capelão a verdadeira
natureza do sentimento que Estácio nutria por sua irmã, Helena. Tal disparate
era inconcebível e o capelão tratou logo de aconselhar o mesmo a aceitar o rumo
de seu destino casando-se com Eugênia, e o casamento de sua irmã com Mendonça.
Ambos os casamentos eram oportunos para os irmãos, que supostamente os livrara
de um constrangimento perante a sociedade.
Porém, intrigado com o comportamento estranho de
Helena, Estácio certo dia a flagrou saindo de uma casa humilde que havia no
percurso do caminho que os mesmos costumavam fazer suas cavalgadas. Chegando em
casa, Estácio repreendeu Helena que em desespero se trancou no quarto
recusando-se a falar sobre o assunto.
No fervor de saber o que havia por trás de tanto
mistério, Estácio acompanhado de Padre Melchior foram até a tal casa decididos a
descobrir a verdade. Lá chegando, encontraram Salvador que confessou ser pai de
Helena, descobriram ainda que a jovem fora convencida pelo mesmo a dar
continuidade ao que fora descrito no testamento, sendo a única imposição da
moça que seu verdadeiro pai ficaria por perto. Quanto ao conselheiro Vale, o
mesmo fora induzido pelo amor que sentia por D. Ângela da Soledade e
acreditando que as mesmas haviam sido abandonadas por Salvador, passou a cuidar
de Helena como uma verdadeira filha, e incluindo-a no testamento como sua
herdeira legítima, a mesma teria um futuro garantido. E Salvador que certa vez
presenciou às escondidas, - já que sua ex mulher havia proibido o mesmo de se
aproximar da menina - o sentimento de afeto paternal que o conselheiro tinha
por sua filha. Com a morte do mesmo, pressupôs que aceitar o que o destino
estava lhes propondo era o melhor, pois ele jamais poderia dar à mesma, um
sobrenome e a herança que o conselheiro Vale havia deixado para ela.
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